Wednesday, October 21, 2009

E se um dia a vires por aí...

dá-lhe um abraço meu, um beijo meu, um sorriso meu e cuida dela.
Se um dia a encontrares por aí, por onde seja, quando seja, talvez envoltos por uma brisa de Verão, recorda-a que a vejo por onde passeiam os meus pensamentos. Se, por acaso, te cruzares com ela... bom, se por acaso te cruzares com ela nem sei o que quereria que lhe dissesses primeiro.

Tuesday, July 28, 2009

o pai

Aprendi a amar o meu pai, incondicionalmente, independentemente das voltas que as nossas vidas dão. Aprendi a compreendê-lo como diferente de mim e tão parecido nalgumas coisas. Aprendi que o tenho para sempre, tal como te tenho a ti. Aprendi que me ama, que sou sua, que me guarda consigo, que me quer bem, que me acarinha como consegue, de forma diferente da tua mas ainda assim é carinho, eu sei. Aprendi que o que nos une é suficientemente forte para eu conseguir abstrair-me do que nos rodeia e de quem nos rodeia. Percebi a tentativa alheia do enfraquecer da nossa relação, percebi o interesse externo no segredo do nosso distanciamento. Pois bem, não estou disposta a abdicar dele por qualquer conforto que possa ter, tal como não abdicaria de ti. Também percebi que perdi muito tempo e imensas oportunidades, tal como contigo.
Aprendi a ler-lhe nos olhos a tristeza que esconde na rudeza do trato. Aprendi que sou parte dele para sempre e, mais ainda, percebi que quero ser. Aprendi a amá-lo como o único pai que queria ter. Aprendi que a consistência dos sentimentos me dá mais tranquilidade que a volatilidade das expressões.
Percebi o que sempre me disseste... finalmente percebi, embora sempre te tenha dito que já sabia. Finalmente perdoei, mãe. Só lamento não poderes estar aqui... não sabes a falta que nos fazes.

Wednesday, July 8, 2009

A menina quer ser astronauta...

... e finalmente descobri porquê.
Aos 2 anos, empertigada e senhora do seu nariz ela queria ser bombeira. Fantasia, pensei eu. Pouco antes de fazer os 3 aninhos pensou em ser médica e assim mo disse. Perguntei: - Mas já não queres ser bombeira? Ao que me respondeu: - Quero ser bombeira mas também médica! Fantasia, pensei eu.
E durante um ano assim foi. Perto dos 4, contou-me espontaneamente: - Eu quero ser é astronauta, ir para o espaço, sair da nave e voar. Inquiri: - Mas não tens medo, amor? Disse-me que não, que se viessem extra-terrestres entraria na nave e viria logo para casa, que faria equipa com a melhor amiga e voariam pelo espaço. Convidou-me a fazer parte da tripulação, tranquilizando-me com a sabedoria da equipa e por não corrermos qualquer perigo se nos mantivéssemos juntas. Ficou irritada quando lhe disse que teria medo de voar e que preferia ficar em casa. Disse-me que tinha de vencer o medo, que ela me protegia e me traria logo para a Terra se surgisse algum problema. Que irritada ficou! Pensei, mais uma fantasia e a teimosia de sempre. Mas manteve-se astronauta, viajante do espaço, firme na sua decisão. Dizia que tinha de estudar para conseguir, que tinha de saber conduzir a nave e o que faziam os botões da mesma. Continuava eu a pensar, fantasia de menina. E, de vez em quando, afirmava que queria ser médica e astronauta. Mais médica para os outros que a escutavam e, mais astronauta para mim, a sós... queria tratar pessoas e voar no espaço. Chegou a dizer-me que o objectivo era conhecer novos mundos e descobrir os espanhóis! Hilariante fantasia de criança com imaginação fértil, pensava eu. Mas há uma semana explicou-me a sua rotina de astronauta. Explicou-me em casa dos meus avós, dos teus pais, qual era o plano final. Mais ainda, explicou porque razão eu deveria perder o medo de voar na nave com ela, e sair da nave no espaço para voarmos cá fora, sem gravidade. Então disse, por palavras que só ela sabe, que voaríamos no espaço e depois pararíamos a nave. A sua melhor amiga ficaria dentro a tratar de tudo enquanto nós as duas saímos para o espaço onde, sem peso, flutuávamos. Era então, nesse espaço, o Céu a seu ver, que encontraríamos a vóvo Nôno. Esticaríamos as mãos até a alcançarmos e depois abraçar-nos-íamos as três. Nessa altura entraríamos de novo na nave, não duas mas três e traríamos a vóvo de novo para a Terra. Simples, não é? Afinal de contas a tecnologia tem a resposta! Se o Céu é onde estás, porque não ir buscar-te em vez de esperarmos a nossa vez?

E este foi o momento em que ela para mim já era uma astronauta. Nada nela é acaso e eu estou longe de saber a profundidade do meu tesouro... mas vou tentando, encantada.

Wednesday, June 17, 2009

Como uma pedra

Ando dura como uma pedra, enraivecida por dentro, dura por fora. Até as palavras dificilmente me saem dos lábios de tão dura que estou. Cedi perante este ambiente duro, este habitat estranho sem sentimento, cedi após a rejeição do Mundo que desejei desesperançada. Agora dura sou, dura acto, dura sinto pouco, duramente exprimo o que duramente penso e assim vou, neste piso duro em direcção a um duro futuro, vazio de sentimento. Nem uma carícia, nem um beijo sentido, nem um abraço envolvente. Nada disso, além dos da minha flôr. Nada tenho desde que foste, nada me foi oferecido nem julgo merecê-lo. Sou eu, um organismo ambulante, sou uma operária da engrenagem desensibilizada, uma peça para fazer a sociedade rolar. Nada mais e dura continuo. Sem carícias, sem beijos, sem abraços impedindo-me de sentir a falta de ser o Mundo de alguém, já que o único alguém para quem alguma vez fui o Mundo não mais me abrirá uma porta.

Friday, May 29, 2009

Deixei-te flores....

Deixei-te flores, flores amarelas, uma côr que me faz sempre pensar na menina, não sei porquê. Desta vez foram flores de uma neta, como a tua, uma neta agradecida a uma filha que é tua. Foi um pegar de mãos, um conforto em dias negros, um final feliz, que geraram estas flores que agora te ofereço. Quantas vezes te terão oferecido flores em vida? Poucas, certamente muito poucas. E tentando descolar-me da tua semelhança, estou a tentar criar um jardim para que haja algo que possa ver crescer e florescer, além daquela que é a FLÔR da nossa vida e que floresce tão linda e adorável quanto sempre desejei. Não imaginas o que ela me recorda de ti, o quanto ela sabe que a tua memória me aconchega e me faz lembrar que já pertenci... e que agora lhe pertenço. Sabes, mãe, são muitos os paralelismos que estabeleço entre a dupla que fomos e a dupla de que agora faço parte. Apercebo-me com o tempo do que deves ter sentido, de inevitabilidade de um amor crescente e ocasionalmente angustiante. Criaste comigo um mundo que penso estar a criar agora em minha casa, uma equipa. Por vezes chego a interrogar-me se sou suficiente para a restante vida, ainda mais sentindo que nem sempre é justa para quem tanto faz parte de mim. Tenho-a a ela eternamente e tive-te a ti e, entre nós há e houve amor bastante para que, entre o amargo em que mergulho, ainda sobre um travo a doce na minha boca bastando recordar que, apesar do desajuste e rejeição de todos os outros mundos, o "meu" mundo tem-vos a vocês e a esse nunca deixarei de pertencer.
E já que as ilusões deram lugar a desilusões, sendo a maior eu própria, tenho tido este mundo, que a muitos (a mim própria) pode parecer incompleto para me acolher, para me aconchegar e envolver numa bolha de onde não quero sair. Aqui sou uma de três, tu és ovo, eu silêncio e a menina luz. Estamos longe de falsas irmandades e associações, estamos unas e seguramo-nos umas às outras. Fora da redoma o panorama será diferente, ver-me-ão a mim, esforçadamente tentando manter-me direita e segurando com força, pela mão, a inocência. Caso uma alma se importasse de me perguntar: - E o que mais desejas fazer?- Responder-lhe-ia: - Correr para os braços de quem me amou, ficar a ouvi-la e dar-lhe um abraço aparentemente desinteressado.

Wednesday, April 29, 2009

54 anos

Espero que tenhas gostado da estrelícia que te foi oferecida há 300Km atrás... Fazes falta todos os dias. Amo-te.

Wednesday, January 14, 2009

Isolada

Será que me isolo não querendo sentir o que sinto ou será que não sinto estando isolada como estou? Será que fujo do sentir com medo do perder ou perco por fugir do sentir? Cada vez me sinto mais isolada, parece-me que já não falo há anos, ou melhor, que já não converso há anos, que não me dispo e converso, que não me encruo e despejo o que vai em mim. Nem quero falar, ou sentir, ou fugir... só quero estar aqui, no escuro, fechada, sem que nada me toque, me sensibilize, me deseje, me chame a atenção. É difícil demais querer ou sentir sem ter, sem compreender porque não tenho, porque estou privada do sentir e do ter, de ti, de mim, de tudo o que era uma promessa de futuro e que num dia se tornou numa promessa de um pesadelo. Quem diria que uma pequenina senhora trazia em si um Mundo de fé em mim, trazia toda a fé que alguma vez houve em mim e num dia, num miserável dia tudo voou com um vento que foi um vendaval e se tornou numa tormenta interminável.