Thursday, May 23, 2013

castelos de areia, não!

 

Tiveste razão em partir cedo. Partiste para não ver o desmoronar de um castelo de areia. Partiste a tempo, foste embora sem perdão. Recuso-me a substituir-te, recuso-me a ser quem eras, não vou erguer outras paredes de areia para as deixar desmoronar noutras mãos. Fizeste o teu melhor por quem não merecia o teu pior. Foste tu, simplesmente tu:  havia coisas a fazer e fizeste-as com a ideia de que assim ficaríamos melhor.

Nem tudo deu certo, mãe. Ficámos pior em tudo, com a tua partida. Mas certa fico eu, de que ao partir evitaste a mais dolorosa parte da tua vida, a admissão da mentira que acautelaste nos bastidores, a queda do pano, a retaguarda do espectáculo podre em que viveste. Se antecipaste isto e partiste, fizeste bem. Não te queria por cá agora. Revelam-se a cada dia os horrores que escondeste de muitos, mas não de mim, a quem abriste os olhos tanto quanto pudeste. Vou-me safando, a família cada vez mais pequena mas cada vez mais grandiosa,… vamo-nos safando. Com os outros, rapidamente deixarei de me preocupar ou sequer de reparar nas suas pústulas nauseabundas expostas.