Sunday, December 23, 2007

Num ano tudo mudou...


Passou um ano e tudo mudou: o frio tornou-se mais frio, o calor menos quente, o sol já não brilha e o sorriso exige esforço; o abraço já não abriga, o beijo nunca mais trouxe o teu cheiro, a casa já não é lar. Tudo mudou: as saudades são cada vez maiores, o pesar de saber que NUNCA MAIS te vou ver é crescente e sinto-me cada vez mais isolada, mais só, mais pequena, mais triste. Tudo mudou desde que há um ano deixei que a terra te engolisse e fiquei petrificada a assistir ao desmoronar do meu mundo.

Friday, November 30, 2007

Vou chorar

Hoje vou permitir-me chorar. Vou escolher um canto frio e escuro e vou permitir-me afundar nesta tristeza e solidão em que tudo se tornou. Vou aquecer-me nestas lágrimas e lembrar-me uma vez mais de ti, de te ver sorrir e do calor que sentia sempre que me aproximava do teu corpo, sentindo já a tua alma. Hoje vou permitir-me chorar, vou fazê-lo com gosto, vou gozar este pranto que me humaniza de novo e faz perder a carapaça que arrasto comigo. Vou chorar, sim, vou mesmo, vou chorar e gritar para dentro esta angústia de finalmente acreditar que não mais te vou ver. Sim, vou chorar, vou chorar com fervor, vou perder a compostura de quem quer ter o poder de controlar o incontrolável, o decorrer de uma vida que se sente estar a perder. Vou ficar aqui fechada na minha dor, nesta casa sem calor, neste canto onde nada me toca a não ser a loucura de saber-me para sempre perdida, sem um abraço nem amor. Vou chorar os dias que desperdiço, que não vivo nem sinto, os dias que correm tão secamente que já nem os conto. Vou chorar tudo o que me apetece e ninguém cá vai estar para sequer me ouvir.

Saturday, November 10, 2007

o peso do Mundo


Ando com o peso do Mundo aos ombros, não tenho quem o reparta comigo agora. Há muito tempo que o carrego mas agora sinto-o em cada célula do meu corpo. Ando com o peso do meu Mundo aos ombros e com a menina pela mão, a que olha para mim como se fosse super-mulher e segue a meu lado acrescendo o peso mas aliviando a dôr. Receio não a conseguir iludir o suficiente e deixá-la por vezes receosa de que o peso recaia sobre nós. Não finjo o suficiente e é ela quem mais testemunha os meus momentos de fraqueza. Este peso que assenta sobre os meus ombros sempre cá esteve mas foi temporariamente suprimido pela tua força, pelos teus ombros, pela segurança com que vias o meu futuro. Não há certezas agora, não há certezas em relação a nada, o que era incerto mantém-se e o que era certo já não o é. Certa estou de que enquanto viva carregarei este peso sobre os ombros e só mesmo o tempo o poderá aliviar.

Sunday, October 7, 2007

O que nos espera?


Ainda não consigo perceber o que nos espera. Vamos vendo os dias passar... as saudades ficam, intensificam, mortificam. Hoje foi ela que me explicou como as coisas são, não resistiu às minhas lágrimas, confortou-me na sua sabedoria de criança, na sua inocente esperança, na candura de quem nada sabe. Foi ela que me confortou pela perda que trago no rosto permanentemente... não consigo vê-la sem te ver a ti. Hoje foi ela a forte e assertiva, a cuidadora e protectora, foi ela que me abraçou e acarinhou, foi ela que preencheu o teu lugar. E eu não sei o que nos espera, ergo o queixo e sigo em frente, nada me arrasta, nada me prende, tenho vida, saúde e uma menina fantástica. Sigo em frente mas ainda não sei para onde, sigo em frente sem certeza de um destino seguro... sigo em frente porque tenho de seguir mas as nuvens não me deixam ainda ver onde vou... nuvens ou lágrimas que ainda me deixam a vista enevoada. Sei que parar não posso por ser o único meio de me manter crente de um dia melhor adiante, de um futuro melhor, de um ninho igual ao que tive contigo, de um Mundo mesmo meu que me acolha como mulher sem me impedir de ser menina também.

E, ainda não consigo perceber o que me espera, o que nos espera, o que vai acontecer... mas a tua força chega a mim de vez em quando e a ideia de te deixar feliz move-me todos os dias. Amo-te, mãe! (e tenho tantas saudades tuas!)

Saturday, September 29, 2007

Alguma coisa mudou, algo aconteceu...


O que foi que aconteceu? O que foi que mudou em mim? O que foi que provocou em mim a tua partida que me sinto não só perdida mas, como nunca encontrei-me a mim e só em mim confio. Alguma coisa aconteceu, algo mudou cá dentro, não consigo viver de frivolidades, de pessoas pequenas e simples, de prazeres mundanos e tristes. O que aconteceu? Porque é que procuro a grandiosidade? Porque é que deixaste em mim a fome de queres ser mais, fazer mais, ser tão melhor que me sinto numa inquietação tremenda? Porque é que nunca estou satisfeita com nada? Porque é que vivo de planos que me tornam tão diferente... tão dura? Porque é que agora só o horizonte parece ser satisfatório estando tão longe? Porque é que me parece nos tempos de acalmia que sem ti nunca mais estarei em paz e sempre procurarei mais e melhor, unicamente porque tenho algo que não está a ser preenchido nem o será. Apetece-me saltar para a frente com a menina nos braços e deixar a "tua menina" para trás. Para quê ser a tua menina se cá não estás? Para quê ser quem era se não me vais abraçar nem acolher? Para quê ser eu se eu sofro? Para quê cá ficar se sinto a tua falta em cada canto que visito? Para quê? Para quê? Porquê? Porquê? Quero partir, quero começar de novo, quero sentir que sou um pouco mais de ti e muito menos de mim... que sou mulher e mãe e não uma menina, que sou forte e robusta em vez de franzina. Quero ser mais e tenho de o ser uma vez que já não te tenho aqui e o tempo não parou para mim, nem está a abrandar.

Friday, September 7, 2007

Angústia


Angústia... chega-me a angústia sem avisar. A angústia de já não poder ser menina da minha mãe, a angústia de não poder fugir para ti, a angústia de não te poder ouvir, a angústia de poder entrar em tua casa e não te cheirar, a angústia de não saber explicar porque é que isto nos aconteceu, a angústia de alguém de 3 anos fingir que vais voltar, a angústia de não poder chorar. Mas a maior angústia é a de te sentir sozinha, de não te poder abraçar e dizer que eu ainda te amo e sempre amarei, que nunca serás traída pelo meu amor de filha, que o teu lugar ficará sempre por ser preenchido, que passados estes 8 meses sinto vontade de te confortar a ti que foste quem afinal perdeu... perdeste a possibilidade de te teres a ti. Chega-me a angústia de ir a tua casa... que casa?! O que é aquele espaço sem ti?! O que é que posso fazer por ali?! Mas ainda assim queria ver-te por lá, só tu, ninguém naquele que é o teu lugar. Ai, que angústia, que angústia de poderes sentir-te abandonada, que angústia de poderes julgar alguma gargalhada como falta ou sequer diminuição de saudade. Que angústia, que angústia de te sentires como o teu corpo, longe de nós sozinha e entre estranhos... tão só, tão uniformizada, tão triste, tão despersonalizada, tão diferente de ti que sempre foste cenário para quem nunca te quis ver... os cegos que nunca te conseguiriam alcançar. Que angústia de te sentires substituída, usada e humilhada tão cedo depois de teres partido. Ai, mãe, que angústia que sinto.

Friday, August 10, 2007

As flores que te ofereci



As flores que te ofereci foram compradas para mim. As flores que te ofereci vieram de uma filha que não eu mas como eu, de ela para mim. As flores que te deixei, espero que gostes, foram oferecidas a mim por quem não te perdeu a ti mas perdeu também a ligação a quem a pôs aqui. As flores que te ofereci não podiam pertencer a mais ninguém, eram tuas desde início. Essas flores são fruto das lágrimas que verti, do ombro que dei, da mão que segurei, da tarefa sobre que me debrucei para tentar dar o que desejo pudessem dar a mim. As flores que te ofereci são sinal do conforto que ofereci a quem, como eu, nunca mais vai abraçar alguém, beijar alguém, dizer a alguém o quanto o ama. Essas flores, minha mãe, são o meu telegrama para ti, o meu abraço, o meu beijo, o meu "amo-te". Já fenecem sobre ti mas o sentido do seu existir já foi cumprido totalmente no momento em que tas ofereci e, deixei sair de mim o pesar de não ter segurado também aquela mão até ao fim.

Tuesday, July 24, 2007

Sabes?

Sabes o quanto tenho pensado em ti? Sabes o quanto me tem incomodado esta reunião familiar em que vou estar sem ti? Sabes que me parece que perdi o cordão umbilical que me unia a eles, os teus irmãos? Sabes que finjo ser tão grande e forte que impeço que me façam pequena e frágil? Sabes que quanto mais o tempo passa mais me apercebo de que tudo é irreversível e de quanto estou magoada com o destino? Sabes que sem ti aqui perdi grande parte do meu idealismo e que a forma como te perdi me fez perder o resto da ilusão do mesmo? Sabes que não estou a conseguir ser feliz? Sabes que a minha alegria passava por saber-te orgulhosa e que agora não tenho por que lutar? Sabes que fiquei sem vontade de ser a melhor? Sabes que penso todos os dias como fui privilegiada em ter-te a ti como mãe? Sabes que amo ainda mais a minha filha agora mas que sinto por ela uma pena infinita por não te ter a ti? Sabes que me angustia saber que sem mim ela não é ninguém e que, por ela, não posso morrer, ficar doente, enfraquecer, enlouquecer... descansar nem "deixar de ser", porque tu não estás aqui? Sabes o que me doi não poder ter um dia mais contigo para te dizer tudo o que não disse? Quem dera amar-te essas 24h de forma a que tivesses a certeza, minha mãe, que nunca te abandonei em pensamento, que a minha lealdade é eterna e que se o tempo voltasse atrás certamente permaneceria junto a ti as horas que te restavam viver, e continuaria a segurar-te a mão e a passar com os meus dedos pelo teu cabelo, beijando-te de tempos a tempos e olhando nos teus doces olhos castanhos. E então dizia-te: amo-te tanto, mãe! Vou ficar SEMPRE junto a ti, como tu estiveste SEMPRE junto a mim.

Perdoa-me, mãezinha! Eu não consegui prever...

Wednesday, July 18, 2007

Continuas comigo, mãe?


Não há dia em que não pense ou sinta saudades tuas. Sinto-me agora mais forte que antes mas muito pequenina. Ainda continuas comigo, mãe? Vês-me? Preocupas-te? Ainda olhas por mim? Podes rir-te e dizer "eu bem te dizia", podes inclusivé zangar-te comigo mas sinto falta da tua preocupação. Sinto falta de ter alguém a pensar em mim a todo o instante, alguém a quem confortar por simplesmente estar bem e segura. Faz-me falta sentir-me querida e acarinhada simplesmente por existir. Faz-me falta ouvir a tua voz a perguntar se estou bem e sentir que sim, agora que me perguntas, estou sim, só porque te ouvi e sei que me queres bem. Faz-me falta ver-te pequena mas enorme frente a mim com a determinação de uma leoa defendendo a cria e o seu futuro. Faz-me falta ter-te como rede onde posso cair sempre que faço asneira. Faz-me falta a tua companhia e o som que fazias ao mover-te pela casa. Faz-me falta que me perguntes se não como mais, se não tenho sono, se não me dói a cabeça por estar a ler com a luz fraca... fazes-me falta, mãe... e já não tenho quem se preocupe comigo... E com um sorriso lembro o que diz um pequenino angustiado frente ao seu pai: "Eu não quero ser crescido!"... nem eu queria, nem eu...

Tuesday, June 26, 2007

passaram 6 meses





Passaram 6 meses desde que foste embora daqui. Passaram 6 meses sem ti e eu não sei o que foi que fiz ou deixei de fazer, só sei que tudo mudou, a vida não é nem será igual à que tinha quando era tua filha. Passaram 6 meses, choveu, fez frio, aqueceu e voltou a chover, tudo mudou, tudo revolveu, tudo aconteceu sem ti aqui. E aconteceu mesmo tudo... Desde que foste tudo aconteceu, o Mundo não parou nem perdoou, o Mundo mostrou-se cruel, esquecido e implacável. Os abraços cessaram, as chamadas também, já sou só lembrança na memória de alguém, alguém que não é como tu (e quem é?), alguém... "alguens", os "outros", que cedo esqueceram o que TU sempre foste (e és para mim). Eu não te esqueço, nem à minha dor, que é minha, é quente, poderosa e intensa... e faz-me recordar o quão viva estou e quanta revolta sinto contra Quem te levou sem prestar contas comigo, Quem te levou e não me pediu perdão, nem a ti, nem se lembrou que faltarias à minha vida e à da menina, que te privaria de nos ver crescer, ser felizes talvez e que nos privaria a nós do teu amor e carinho, da tua paixão e ternura. Quem te levou foi O mais cruel ser e o perdão está longe de chegar. Mas sinto-me viva, mãe. Estou viva, sim ou não sentiria esta dor nem estas lágrimas correriam em fio pelo meu rosto. E como dizia a outra: "a dor é minha só, não é de mais ninguém.. a dor é minha, a dor é de quem tem.... é o meu trofeu, é o que restou, é o que me aquece sem me dar calor. Se eu não tenho o meu amor, eu tenho a minha dor...".

Monday, June 18, 2007

Com quem falo?

Pois é, mãe... e com quem falo agora? Com quem vou partilhar o que sinto, sem revelar quem sou, a minha fragilidade e esperança. Com quem vou ficar em segurança, sendo eu própria, sem temer ser julgada nem injustiçada? Com que vou falar quando pego no telefone e só me lembro de ti? Com quem, mãe? Com quem? Com quem falo sem falar? Com quem falo sem sorrir? Com quem falo sem filtrar o que posso ou não dizer? Com quem falo do que se passa na minha cabeça, no meu coração, no meu espírito que voltou a voar? Com quem falo de quem quero ser? Com quem falo de quem já sou? De quem eu fui? COm quem falo de nós? Com quem falo de toda a espiral de emoções que se revolve em mim sem sair nem acalmar? Com que é que eu posso falar, mãe?

Monday, May 21, 2007

E se subitamente tu surgisses à minha frente?


Se subitamente surgisses à minha frente, tal como um sonho recorrente, surgisses assim como nada fosse à minha frente na rua, sorrindo como sempre, assim subitamente.

Não sei o que faria, só sei que te diria que te amo loucamente e que de hoje em diante nem por um instante te quero distante, quero-te sempre à minha frente.

Agarrava-se, beijava-te, abraçava-te e olhava-te com paixão nos teus olhos transparentes. Pedia-te que fosses sempre minha... sou eu, mãe, a tua pequenina. Sê minha eternamente, não me deixes de repente nem brinques mais com a minha mente.

Já chega mãezinha, estou aqui tão sozinha e tão rodeada de gente.

Se surgisses subitamente, pedir-te-ia perdão pelas lágrimas que derramaste por mim, perdão por não ter chorado o suficiente por ti... perdão por te ter deixado sozinha num mundo diferente, em que rodeada de gente ficaste sozinha sem mim.

Se surgisses de repente rodeava-te num abraço sem mim.


Amo-te tanto, mãe!

Wednesday, May 9, 2007

Há melhor que uma mãe?


Haverá melhor sensação que a de ser mãe? E de ser filha? Não me conseguiu abandonar este pensamento hoje... interrogo-me se alguma vez fui mais feliz do que no exacto momento em que vi a minha filha pela primeira vez num ecran de ecografia. As lágrimas correram o meu rosto espontanea, abrupta e abundantemente tal foi a sensação que me invadiu de orgulho, plenitude e preenchimento emocional. Foi inexplicável aquele momento em que me vi habitada pelo querer a quem ainda nem sentia, que era ainda o abstrato, o imaginado, era uma ideia ténue de uma criança sem forma nem voz, e naquele momento ali estava dançando para mim... parecia tão alegre, pulando, movendo-se agitadamente, nadando no meu ventre como se não houvesse nada melhor no Mundo. O segundo melhor momento foi senti-la mexer, como se me tocasse por dentro, como se fosse uma carícia breve e fugidia, uma brincadeira que fazia comigo surpreendendo-me a qualquer altura do dia e fazendo-me companhia nas noites longas. Nunca mais me senti sozinha enquanto a tive em mim, enquanto foi só minha, enquanto me pertenceu totalmente, enquanto se alimentou de mim e me respirou a mim.



E ser filha... ser filha foi uma doce lição de tão doce ter sido a mestre. Ser filha da minha mãe foi incrível agora que penso nisso. Não poderia ter sido melhor em nenhum aspecto excepto no pouco tempo que tive para o ser. Afinal, 30 anos na presença daquela onda de calor não foi suficiente para acreditar que o seu trabalho ficou feito... não ficou. Falta-me muito essa certeza de que eu afinal sou especial, como ela só me fazia crer. Esse calor abandonou-me, a voz sempre doce não ouço mais, aqueles bracinhos já não me envolvem num abraço apaziguador e aquele cheiro... como é que posso explicar o cheiro da minha mãe? Era tão único, um cheiro de mulher, de ninho, um cheiro intenso que sentia assim que abria a porta e talvez por isso tanto me custe ir a sua casa agora... já não tem cheiro e assim sinto-a vazia, gelada e dura. O cheiro da minha mãe era o odor dos deuses, a essência do amor, o perfume maternal da vida, era luz de Verão em dias de Inverno.



Não sei o que é melhor... ser mãe ou filha dessa que foi a minha mãe... sim, talvez isso.

Sunday, May 6, 2007

1º Dia da Mãe sem ti

Este é o primeiro Dia da Mãe em que só sou mãe e não filha. O primeiro em que só recebo sem dar, em que sou colo sem o ter, em que sou ninho sem saber voar.
A menina trouxe um poema e um espanta-espíritos que fez na escola. Não sei do que gosto mais, só sei que nada tenho para ti a não ser a minha recordação, o meu carinho, o meu amor, a minha saudade, a minha ternura, o meu abraço, a minha estrutura, a minha compaixão e a dôr que me acompanha sem fazer ruído.
Tenho de partilhar contigo o poema...


Só por isso, mãe

Mesmo que a noite esteja escura,
Só por isso,
Quero acender a minha estrela.

Mesmo que o mar esteja morto,
Só por isso,
Quero erguer a minha vela.

Mesmo que a vida esteja nua,
Só por isso,
Quero vestir-lhe o meu poema.

Só porque tu existes,
Vale a pena!

E agora diz-me lá, mãe, se depois de a minha filha me ter oferecido isto, a minha vida vale a pena sendo que tu já não existes.

Friday, May 4, 2007

Dá-me um abraço...

Dá-me um abraço! Um, só te peço um abraço apertado e demorado. Consigo sentir o teu cheiro, está impregnado em mim e não me deixa, é a minha sombra e aura, parece que mo ofereceste. Mas receio não sentir o teu calor, bem tento mas não consigo, estou fria e despida, pequena e entristecida desde que me deixaste assim. Preciso do teu abraço, tão doce e reconfortante, quero-o agora como dantes, quero-o imediatamente e até ao fim. Envolve-me nos teus braços, entre nós nenhum espaço, só amor nesse regaço que é o teu e só para mim. Não me negues o teu colo, sou tua menina pequenina, estou sozinha e sem rumo, sem destino assim sem ti, mãe. Quero tanto o teu abraço, enrolar-me no teu corpo, sentir-te forte e quente, doce e envolvente, minha mãe junto a mim.

Sunday, April 29, 2007

Parabéns Mãe!

Parabéns pelos teus eternos 51 anos, parabéns por tanto seres amada, parabéns por teres sido a melhor do Mundo, parabéns por seres mãe como nenhuma outra, parabéns por seres recordada com tanto carinho, parabéns por estares sempre na nossa mente. E parabéns por nos teres ajudado a cumprir com a nossa palavra, a menina foi hoje baptizada. Amo-te!

Saturday, April 28, 2007

Mensagem de uma amiga e resposta

Minha amiga:
Este é o Dezembro…

…um Dezembro de média idade mas muito acabado, escuro, usa bigode preto, sujo e mal aparado e tem barba de há três, quinze dias. É austero, frio, triste e distante. Vem em passo acelerado, grunhindo em voz baixa e com sobrolho carregado porque não quer dar pataco e não responde à alegria de um Olá, não está para aí virado. Passa fugaz na pressa de um Adeus. Poderiam pensar: “Vem com pressa, trás Natal!”, mas não. Nem Natal, nem Ano Novo, nem Carnaval ou Páscoa durante muito, muito, muito tempo. Este Dezembro não trás nada, só tira. E tira tudo, uma mãe a uma filha, uma avó a uma neta, uma guerreira à sua grande pequena batalha, a vida…

Um Dezembro que não podia acontecer…mas aconteceu. Foi curto. Começou na sexta-feira à tarde e terminou na madrugada de Sábado dia 23. Eu nem queria acreditar! Ora está tudo sereno ora É a negra manhã de Luto por uma Mãe… E se o Dezembro foi curto, o Janeiro não chegou. Tudo se resume à dor daquela noite. O despertar? Completamente inútil! Uma brincadeira de criança? Triste, francamente triste, ri na inocência de quem nada sabe. Um riso na estupidez? Despropositado, Já nem recordo porque ser ri. Um passeio junto ao mar? Perda de tempo! Comer? Futilidades! Viver? Para quê?

Amiga, porque não podes passar o resto dos teus dias na cama, por muito confortável que soe. Também tu és mãe e tens uma filha para criar. Por trás das brincadeiras da tua criança está o calor onde te podes aninhar. No sorriso vem o abraço de uma amizade e nós estamos aqui. Com o mar recordas a luz e o quanto podes ainda ser feliz. Comer amiga? Comer faz falta e ponto! Viver? Vamos vivendo, devagarinho…na verdade parece andamos por aqui para isso.

Adoro-te. Força. Penso sempre em ti.


Eu:
Acabei naquela manhã em que deixei de ser filha e passei a ser alma vazia num corpo que deseja ser tão inerte quanto o de minha mãe, apesar de ter de acompanhar o passo acelerado medido ainda em centímetros daquela que é minha filha. Sempre só fingindo vencer eu própria batalhas, quando no fundo sei que perco sempre uma e outra acabando por destacar lascas de mim até nada ser... como agora. Não sobra nada daquilo que tiveste por amiga, sou um palhaço animado por cordas invisíveis num teatro de riso que oculta com máscaras coloridas a dor de quem se sabe perdido, pequeno e sozinho falando num eco mudo para um mundo surdo.

Monday, April 23, 2007

Sombrio e ameaçador


Não tenho estrutura. Como é que fui desmoronar assim, tão irreversivelmente? Fui demolida, arruinada, fiquei sem o que havia de melhor em mim. Todos os dias finjo estar inteira, numa só peça, ergo a minha cabeça, mas os joelhos tremem-me e as mãos desobedecem. Afinal quem era eu... já nem me lembro. Era a tua menina e não serei mais a menina de ninguém. Porque demoras tanto a receber-me nos teus braços? Porque é que te esqueceste de mim, mãe? Porque é que apesar do meu esforço não te consigo rever aqui e sentir-me novamente a mim?
Estou insaciável, preciso de um milhão de pessoas para colmatar a tua ausência e, nada nem ninguém o consegue... milhões e ziliões de criaturas que não farão uma de ti. Alimento-me delas, retiro-lhes o melhor, substituo umas por outras, junto-as, divido-as, somo e multiplico mas não obtenho o que preciso. Vou seguindo nua e fria, desestruturada e vazia, neste caminho sombrio e ameaçador que não me leva a lado nenhum.

Friday, April 13, 2007

Um... dois... três...


Todos os dias são dias sem ti. Todos os dias te quero aqui. Todos os dias são noites em que o teu colo me falta e a minha alma te chama. Todos os dias são lágrimas que caem.. que caem sem me abandonar nem deixar o meu rosto secar. Todos os dias... ai, todos os dias que ainda me faltam.

Saturday, April 7, 2007

São de pedra


Tu não és aquela pedra que escolhi, não sorris como naquela fotografia. Tu és mais, és calor, uma côr, uma luz e uma canção. Tu és assim, minha mãe, meu amor, meu coração. Não estás ali, nem mesmo aqui, não sei de ti, não te encontrei. Dizem que sou tu, que sou assim também. Mas não sou...
Pedras são os outros, frios, duros e impenetráveis. E em breve o serei, porque me levaste tudo e me deixaste menina e mãe, sabendo que sem ti nada sei.
Visito a pedra à espera de te encontrar um dia, quente e sorridente e que me abraces como fazias, fundindo-me em ti e deixando que seja outra vez tua filha, teu fruto, teu amor. Deixa-me entrar no teu útero e esquecer a minha dôr.

Friday, March 30, 2007

Sinto-me ir


Já não sou quem fui, sou o que ficou de mim... a mim, sinto-me ir.
Sinto-me ir devagar, fingindo que não me vejo sair. Vou ficar a fingir.
Cá ficarei, sem parte de mim. Vou ficando, desejando partir.
Não sei o que me poderá mais trair. Nada tenho, já parti.
Saí por debaixo da porta, voei pela janela. Não me encontras, já não estou aqui.
Fui para longe, para de onde saí. Não voltarei, nada tenho aqui.
Aqui fica quem não sou, quem nunca quis ser. Ficam as cinzas, os restos de mim.
Pálida e cinzenta sombra sou, a chama perdi, quando te perdi a ti.

Friday, March 23, 2007

Noite


Está sempre noite desde que partiste.
O sol vai e vem sem deixar passar luz nem calor.
A lua tem sido companheira e as estrelas que andas a fazer para a menina, por mim já chegam, podes voltar. Fico satisfeita com as nuvens, cobrem o céu e não permitem sonhar mais além, sonhar com o invisível e com o inexistente, deixam tudo ser mais verdadeiro, cru e cruel. São elas que me lembram que nada ficou, que sou só eu e que ninguém realmente me vê porque entre cada um de nós há uma interposição de neblina que torna evidente a distância e a pouco importância que temos para os outros.

Está sempre noite desde que partiste.
Nem quero que o dia chegue porque vou ainda mais sentir a tua falta não tendo o teu sorriso e o teu abraço, o teu bom dia, o teu regaço, o teu dom de me fazeres feliz.

Está sempre noite desde que partiste e não haverá dia até voltares.

Monday, March 19, 2007

Grito


Quero gritar ao Mundo a minha dor. Quero fazê-lo tremer no meu tormento. Quero apagar o sol e fazer perdurar a escuridão. Quero queimar a minha roupa e ser EU tão só, nua e fria como quanto me sinto. A roupa não me serve de aconchego nem abrigo sem estares comigo, mãe. Quero gritar ao Mundo esta injustiça, quero dizer-lhe como o odeio, vazio e cruel que é. Quero gritar aos felizes que o pior está para vir, que tudo muda num segundo, que a perda é eterna e com ela vem o agoniante vazio.
A ti mãe, quero sussurar ao ouvido o que te amo e amarei, como me salvaste a vida, perdendo anos teus. Quero beijar-te o rosto e os cabelos, abraçar-te como nunca e pedir-te, suplicar-te que voltes para nós. Que voltes a iluminar-me, aquecer-me, aconchegar-me e acolher-me nos teus braços. Pequena que és, foste sempre enorme para mim.
Amo-te...

Thursday, March 15, 2007

Essência de mim


Sou filha de mãe para sempre perdida,
filha de pai que ama sentida,
mãe de uma filha sem pai nesta vida.

Ando por cá, de mim esquecida...

Tuesday, February 27, 2007

EU

Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida,

Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca

Monday, February 26, 2007

Sozinha com a minha menina

Tentando sobreviver nesta terra de desalmados sozinha com uma criaturinha de 3 anos a quem tudo devo e a quem tudo tenho de dar.
Quem me ouve?
Ninguém... só o eco me repete infinitamente.
Onde andas tu que me deixaste aqui sem um ombro amigo e sem quem fale a mesma língua que eu... longe foste sem que te pudesse dizer adeus e o quanto te amo

Sunday, February 25, 2007