Monday, April 23, 2007
Sombrio e ameaçador
Não tenho estrutura. Como é que fui desmoronar assim, tão irreversivelmente? Fui demolida, arruinada, fiquei sem o que havia de melhor em mim. Todos os dias finjo estar inteira, numa só peça, ergo a minha cabeça, mas os joelhos tremem-me e as mãos desobedecem. Afinal quem era eu... já nem me lembro. Era a tua menina e não serei mais a menina de ninguém. Porque demoras tanto a receber-me nos teus braços? Porque é que te esqueceste de mim, mãe? Porque é que apesar do meu esforço não te consigo rever aqui e sentir-me novamente a mim?
Estou insaciável, preciso de um milhão de pessoas para colmatar a tua ausência e, nada nem ninguém o consegue... milhões e ziliões de criaturas que não farão uma de ti. Alimento-me delas, retiro-lhes o melhor, substituo umas por outras, junto-as, divido-as, somo e multiplico mas não obtenho o que preciso. Vou seguindo nua e fria, desestruturada e vazia, neste caminho sombrio e ameaçador que não me leva a lado nenhum.
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