Deixei-te flores, flores amarelas, uma côr que me faz sempre pensar na menina, não sei porquê. Desta vez foram flores de uma neta, como a tua, uma neta agradecida a uma filha que é tua. Foi um pegar de mãos, um conforto em dias negros, um final feliz, que geraram estas flores que agora te ofereço. Quantas vezes te terão oferecido flores em vida? Poucas, certamente muito poucas. E tentando descolar-me da tua semelhança, estou a tentar criar um jardim para que haja algo que possa ver crescer e florescer, além daquela que é a FLÔR da nossa vida e que floresce tão linda e adorável quanto sempre desejei. Não imaginas o que ela me recorda de ti, o quanto ela sabe que a tua memória me aconchega e me faz lembrar que já pertenci... e que agora lhe pertenço. Sabes, mãe, são muitos os paralelismos que estabeleço entre a dupla que fomos e a dupla de que agora faço parte. Apercebo-me com o tempo do que deves ter sentido, de inevitabilidade de um amor crescente e ocasionalmente angustiante. Criaste comigo um mundo que penso estar a criar agora em minha casa, uma equipa. Por vezes chego a interrogar-me se sou suficiente para a restante vida, ainda mais sentindo que nem sempre é justa para quem tanto faz parte de mim. Tenho-a a ela eternamente e tive-te a ti e, entre nós há e houve amor bastante para que, entre o amargo em que mergulho, ainda sobre um travo a doce na minha boca bastando recordar que, apesar do desajuste e rejeição de todos os outros mundos, o "meu" mundo tem-vos a vocês e a esse nunca deixarei de pertencer.
E já que as ilusões deram lugar a desilusões, sendo a maior eu própria, tenho tido este mundo, que a muitos (a mim própria) pode parecer incompleto para me acolher, para me aconchegar e envolver numa bolha de onde não quero sair. Aqui sou uma de três, tu és ovo, eu silêncio e a menina luz. Estamos longe de falsas irmandades e associações, estamos unas e seguramo-nos umas às outras. Fora da redoma o panorama será diferente, ver-me-ão a mim, esforçadamente tentando manter-me direita e segurando com força, pela mão, a inocência. Caso uma alma se importasse de me perguntar: - E o que mais desejas fazer?- Responder-lhe-ia: - Correr para os braços de quem me amou, ficar a ouvi-la e dar-lhe um abraço aparentemente desinteressado.