Sunday, July 24, 2011

Inícios, fins, meios e recomeços

Tudo gira, tudo cicla, tudo muda, excepto eu. Fiquei fixa, fiquei muda, fiquei vazia de vontades expressas. Fiquei triste, fiquei sua, fiquei seca entre flores silvestres. Poderão brotar flores de placas de zinco ou será fruto da imaginação d'alguém? Poderá brotar em mim a força ou será exigir demais? Exigir-me acreditar, lutar e arriscar perder. Arriscar o que já não tenho, perder o que não tive. Serei ainda pessoa? Serei ainda eu? O eu que fui, a garota que acreditou? Morri também, contigo, sou como tu, uma memória.
Antes tudo era possível, tinha uma plataforma (tu) e facilmente equilibrava sobre a cabeça o meu cristal precioso (a menina). Agora, movo-me em areias movediças, em terreno falso. Com quem conto realmente? A quem confio a integridade do meu cristal? NINGUÉM! Ninguém, e o peso do Mundo recai sobre mim. Sei que pouco valho, mas sou tudo o que ela tem e como tal, tenho de lhe valer. Deixei de ser "a" cuidada, para ser a cuidadora, deixei de ser a menina para ser a mãe. Deixei de ser minha para ser dela e de ser tua para ser de ninguém.
Inícios, fins, meios e fins... O que sei eu? Os fins, conheço-os bem; não percebo nada de recomeços, ansiei inícios e detestei meios. Sobre os fins posso eu falar, tudo me tem acabado sem ter antes começado.

Tuesday, July 12, 2011

cansada

É nos momentos de perfeita exaustão física e psíquica que regresso a mim e me deixo sentir a mim mesma. Nestes momentos, que são muitos e ,simultaneamente desejados e repudiados, lembro-me de que também sou pessoa. Momentos em que reparo que ando a marcar passo, vazia de sentido, esperando apenas a minha vez de dar por terminada a minha tarefa. E não fosse estar tão viva esta recordação, de que não tenho ainda tudo feito, ficaria até mais tranquila por poder apenas contar minutos e segundos. Rodeia-me a responsabilidade de proteger esta menina, de fazê-la forte e diferente de mim. Uma responsabilidade que me tem feito sobreviver sem sacríficio, uma responsabilidade que me mantem neste teatro que é a vida.
Cada vez mais me familiarizo com corpos sem alma, afinal há muitos mais como eu, andamos por cá mas estamos perdidos. Entrámos num elevador que nunca mais chega ao piso e vamos ouvindo a música de fundo e lançando frases para preencher o silêncio e não se tornar desconfortável a interminável viagem de passagem.
De facto, já não vale a pena tentar mais, afinal é mesmo só isto, o elevador sobe sobe mas já ninguém sequer olha para o raio dos números. Onde vamos? Quantos milhões de pisos já passámos? Who cares?

Prefiro ser cínica a correr mais riscos, ser egoísta a ser tola. Tolos são os que acreditam na fantochada que nos cercou nos anos da inocência, quando nos disseram que tudo era possível. Fico assim, cínica e egoísta, mas sem a possibilidade de piorar.
A viagem vai no entanto sendo pontuada de momentos, como este, como outro recente e uns poucos mais antigos, em que vem à tona o raio da alma e não a consigo expulsar por dias a fio. Atormenta-me e chora por mim, pela minha carcaça. São momentos de exaustão, de loucura temporária, já vai passar... dá-me um beijo e um abraço, mãe! Diz que vai passar!
Momentos, momentos... momentos em que deixo o meu coração sangrar pousado no colo de amigos, atrofiado e escuro mas, sangrante e explosivo fica aberto, despojado aos olhos de quem não partilha o meu nome, apenas a minha alma. Alma essa que escancarada me mostra frágil e pequena, cheia de ódios e raivas, cheia de amor e paixão, cheia de sentimentos e angústias, cheia de sentido... cheia, cheia mas sem ter absolutamente nada. Cheia de porquês, cheia de ressentimentos, cada vez mais sozinha e cada vez desejando estar mais afastada e esquecer do que já quis ser, ter e fazer. Dou graças a quem foi surgindo e ficando, vendo-me a subir e descer nesta interminável viagem de elevador. Dou graça às interrupções do correr sincopado dos dias... dou graça mas quero voltar ao tranquilo vazio, se faz favor. Já chega!