Tuesday, December 23, 2008

2 anos

Passaram dois anos e o Inverno ainda não me abandonou. Há um frio gelado que começa dentro de mim, no fundo de mim e progride para a superfície de mim. O gelo vem de dentro e não de fora. É parte de mim e impossível de expulsar. Não há roupa, agasalho ou aquecimento suficiente para fazer-me sentir novamente quente e plena. Faltas tu... a toda a hora. Há dois anos que na falo contigo... escrevo-te estas mensagens que não lês mas me aliviam, mas há dois anos que não falo contigo e temo um dia vir a esquecer o tom da tua voz.
Passaram dois anos e enquanto parece que o Mundo só agora recomeçou a rotação eu ainda fico tonta com a sua escassa velocidade. Dois anos e ainda acho que não estou adaptada a que os dias surjam em sequência sem que tu chegues. Mas afinal, será que se esqueceram de ti? Como pode o Mundo arrancar, largar amarras sem tu aqui estares, sem te terem prevenido, sem se lembrarem que pouco me interessa o destino tal é o frio que emana de mim sem o teu abraço.
Passaram dois anos mas perdura a dor e cresce a saudade de falar contigo... ou mesmo só de estar na tua presença. Nunca mais ficarei no teu sofá a ouvir-te mexer pela casa fora e sabendo que ali e contigo tudo o resto é pequeno e insignificante. Tantas foram as vezes que foste o meu Mundo e o meu forte e eu não consegui sê-lo uma vez que fosse contigo. Dois anos depois não consegui ainda obter o meu perdão. Amo-te, mãe!

Tuesday, December 2, 2008

Espero...

... desesperadamente que esta noite termine, já dura quase dois anos...

Wednesday, October 22, 2008


Começo a recear a irreversibilidade desta insatisfação. Anseio pertencer a algo, alguém, qualquer coisa e vens-me sempre à memória lembrando-me o quanto sou incompleta e como tal imperfeita. Parece que entro no jogo logo em desvantagem, falta-me a carta principal, a minha força, inteligência e segurança. Assim ando há quase dois anos mas só agora me apercebi de que posso vir a perder o jogo por causa de ti. O que foi que te levou e, contigo à força que eu parecia ter? Quem raio decidiu que havias de ser tu se todos os dias passam por mim carcaças de pessoas que vagueiam sem rumo? Quem tomou tal decisão? Quem? A quem é que eu posso bater à porta para reclamar e despejar as minhas lamúrias exigindo-te de volta? A quem posso processar, agredir, fazer sangrar por tu não estares aqui? Quem é que vai restituir a minha integridade? Quem é que vai devolver o meu alento? Quem é que vai reparar este engano? Mas quem é que ainda me pode ouvir e não deixar passar este pesar que me acompanha em vão? Quem é que vai reparar o meu sorriso e torná-lo novamente espontâneo? Quem? Quem? QUEM? Será que ainda engano alguém fingindo-me viva?

Sunday, September 28, 2008

De tão pequena que sou


Porque é que o Mundo não me engole de tão pequena que sou?
Porque é que prefere divertir-se a ver-me patinar, nadar atrapalhadamente contra as marés?
Porque é que este Mundo não me engole de vez e apaga a memória do meu nome?
E se eu nunca tivesse nascido? Quem mal teria acontecido? Nenhum!
E se eu nunca tivesse dado um suspiro, aberto os olhos, estendido a mão?

Mas porque é que a Terra não se abre para me acolher no seu útero e eliminar desta superfície em que o sacrifício e a dor ainda são constantes?

Há dias, ou semanas, nem sei se não serão meses, que não consigo mesmo ultrapassar a tua falta e lá vem este estúpido desejo de te telefonar e de ouvir a tua voz. Apetece-me bater em mim própria! Raios! Como posso esquecer que nunca mais te vou ouvir?! Como posso andar tão atarefada, atrapalhada e estupidificada que perca noção da mais terrível certeza, a de que já cá não estás. Sim, bem posso ficar a chorar, na cama, no carro, onde me apetecer… porque os teus braços não vão nunca mais me envolver, nem o teu coração bater de maneira a cercar o meu.

Queria tanto falar contigo, mãe!

Porque é que não se abre o céu e me engole apagando a memória de meu nome?

Wednesday, September 3, 2008

O gesto de uma outra filha


A minha pele gelou quando vi o gesto daquela filha. O sangue que corria nas minhas veias tornou-se espesso e gelado e fez surgir uma lancinante dor de cabeça que me desorientou como pessoa. Só na manhã seguinte me reorganizei e só então consegui chorar. Já aquele gesto me tinha tocado profundamente demais e relembrado uma dor nunca esquecida.
Mas enquanto lá estava, parcialmente toldada pela pessoa que fui, pensava qual a justiça deste Mundo. Qual a justiça de ter resgatado alguém e não ter o meu “alguém” de volta? Foi como se fosse pequenina, como a minha menina que, quando se porta bem, tem direito ao seu prémio de volta. Pois, mas a ti não deixaram voltar… Afinal, portei-me bem, trouxe aquela mãe de volta mas a minha não regressa. E foi nesse turbilhão de pensamentos desconexos e sem sentido que me apercebi que por mais mães, pais, filhos e avós que possa trazer de volta, cuidar e recuperar, TU não voltarás. Já nem sei como pude falar com aquela filha, sem saber sequer no que estava a pensar. Só queria dizer-lhe que aproveitasse, que dissesse o que tinha a dizer sem esperar por um momento mais especial ou um dia em particular. Todos os dias foram especiais enquanto pude ter-te, mãe.
E foi então que ela fez aquele gesto. Aquele afagar do cabelo da mãe, aquela carícia. Aquele gesto para mim foi mais que um beijo. Será inato? Será um gesto filial? Será que é daquela forma que todas as filhas pretendem mostrar o desespero, amor e necessidade de uma mãe? Será que percebeste que, quando eu era a filha e tu a mãe e, te afaguei o cabelo te queria dizer o quanto te amava, o quanto precisava de ti, o quanto não imaginava a minha vida sem ti, nem mesmo que fosse por uma só noite no hospital? Será que percebeste que faria tudo para não te ter deixado ali, mãe? Perdoas-me? Será que percebeste que não o pretendia como despedida? Será que entendeste que nunca imaginei que te fosse perder assim? Será que guardaste o significado do que fiz, da carícia de todo um dia de pé ao teu lado, do segurar da tua mão, do acariciar do teu cabelo, do olhar prolongado nos teus olhos, sempre lindos e quentes apesar do sofrimento? Será, mãe, que nos teus últimos momentos me recordaste como crescida ou como a menina no teu colo? Ai, mãe, sou crescida mas não quero, quero voltar a ser a tua menina, quero voltar ao cheiro do teu colo, ao calor que sentia quando estavas por perto. Quem me dera também ter uma oportunidade, como aquela filha de te afagar o cabelo e abraçar-te ainda quente e não ter já a recordação do teu corpo frio e sem cheiro como naquela noite e naquele dia. Quem me dera poder ver-te novamente sorrir como avó e, quem sabe até, como mãe. Quem me dera que não te recordasse tão sofrida e eu tão estúpida. Perdoa-me, mãe… perdoa, por favor.

Wednesday, July 16, 2008

Acordei noutro tempo

Acordei noutro tempo, depois de uma noite que durou alguns minutos, acordei noutro tempo, noutro lugar, numa dimensão onde era inteira outra vez. Acordei e lembrei-me de que te tinha de ligar, de que devias estar zangada por não te dizer nada há tanto tempo, de que deverias estar orgulhosamente aguardando a minha chamada, a minha visita. Acordei com remorsos de que a vida atribulada que levo me estivesse a privar de quem me ama, de quem tanto amo. Acordei mãe, e por fracções de segundo nada tinha acontecido e só me lembrava de ligar para ti. Foram, no entanto, fracções de segundo em que o remorso e a "negligência" foram doces por não me lembrar de que já tinhas partido. Doce foi a desorientação oferecida por uma noite de apenas alguns minutos.

Thursday, June 26, 2008

Terei eu força...

... para recolher os meus pedaços e seguir em frente?

Saturday, April 26, 2008

53 anos

Cresce em mim a ansiedade de ver chegar outro aniversário teu. Devias fazer 53 anos. Eu devia estar ansiosa com a tua prenda, aliás, com as tuas prendas. Quantas vezes me lamentei pela teu aniversário ser invariavelmente seguido pelo Dia da Mãe? Quantas vezes tive de puxar pela criatividade para poder ter dois embrulhos de que me orgulhasse em tão pouco espaço de tempo?
Agora apenas posso lembrar-me de ti, ainda mais fervorosamente, nestes dias. Agora lamento não ter ninguém a quem oferecer as minhas prendas. Agora lamento a ausência de significado do Dia da Mãe, já que não me considero ainda digna de tal, nem me quero comparar a ti... sou uma sombra do que foste e do que eu poderia ser.
Lá se aproxima o teu dia e eu sem nada para fazer senão continuar à tua espera. Vou pensar em ti e mais uma vez me interrogarei porque tardas.

Sunday, March 16, 2008

Dor aguda


É aguda a dôr que sinto no meu peito, é aguda e perturbadora. Surge inesperadamente, associada a uma imagem de ti, uma canção, um cheiro, uma sensação. Surge assim subitamente e depois não parte e deixa-se ficar prolongadamente. Surge em qualquer dia, com qualquer palavra, muitas vezes já nem distingo a associação. Surge de dia e de noite, quando trabalho ou descanso, surge e deixa-me paralisada, de dôr, de saudade, de incapacidade de controlar o amor que me falta. É dôr, é escuridão, é estar perdida de tanto te "encontrar" em sensações etéreas que desejo eternas. Já desespero na tua ausência, sobrevivo estes dias colados uns aos outros sem esperança nem paixão. Sobrevivo-os sem desejo sequer. Sobrevivo à dôr porque afinal de contas a amo.. amo cada momento em que pelo menos sinto algo, ainda que seja esta dôr. Dôr aguda no meu peito, aguda e perturbadora, que povoa o meu interior. Ainda que tanto doa, dor que não perdoa, amo-a desde que me mantenha ligada a ti. Amo-te a ti, sempre e para sempre, mãe.

Tuesday, February 12, 2008

Sonhei contigo...

Sonhei contigo... e foi como se nunca me tivesses aqui deixado. Esta noite sonhei contigo! Estiveste comigo, no escuro do quarto em horas de confusão entre insónia e sonho. Estiveste comigo e conversámos baixinho nas horas em que julguei estar acordada e afinal dormia. Sonhei que falaste com a tua voz de mãe, calma, serena e confiante. Falaste comigo como se nada tivesse acontecido, falaste com naturalidade e paz, conversámos sobre a Inês e como anda endiabrada. Falaste comigo como se nada fosse e respondi-te da mesma forma... e só de manhã me apercebi do extraordinário da nossa conversa... já que não tinhamos nenhuma há mais de um ano. Sonhei contigo, mãe, mas sonhei contigo tranquila, sem ansiedade nem estranheza, sonhei contigo como tu eras, a minha mãe.
De manhã tive de te ir visitar. Acho que precisava de deixar de pensar no sonho e constatar a realidade do pesadelo. Mantens-te lá debaixo daquelas malfadadas pedras, mantens-te inerte, não me respondes quando lá estou... não me respondes como no sonho... lá não ouço a tua voz. E então, não consigo deixar de pensar que estiveste comigo esta noite, não consigo. Só me apetece voltar a adormecer e esperar que venhas conversar comigo outra vez. Vens? E da próxima vez, por favor abraça-me! Não sabes as saudades que tenho do teu abraço... Ai, que saudades!
Este sonho foi um presente, o melhor que poderia ter tido hoje... faz hoje 4 anos que fui mãe e tu, avó. Faz hoje 4 anos que olhaste para a Inês, que deixei de ser "a menina", que mais uma vez me amaste e mo fizeste sentir com todo o calor que emanava do teu olhar e do teu toque... e já passaram quase 14 meses desde que o calor não voltou a mim... cada dia estou mais fria.

Tuesday, January 15, 2008

Lealdade

Porque o tempo passa por nós e já não por ti, porque foste onde nos e impossível alcançar-te, porque partiste cedo e nos deixaste imcompletos, porque tudo ficou por dizer no curto espaço de tempo que tiveste, porque o meu amor foi modificado mas não interrompido, porque a falta que me fazes é diária, porque fecho os olhos e vejo o teu rosto, porque me deito sozinha e penso em como te aconchegavas em mim quando era pequena, porque foste o que de mais leal tive na vida... não posso deixar de me sentir destroçada com o que aconteceu com a tua imagem, com a tua memória, com o que era suposto ser sentido mas não foi. As mentiras que deixadas na tua campa foram rapidamente descobertas e passaram de conforto a desilusão e de desilusão ao total isolamento. Subitamente deixei de ser alguém, subitamente tornei-me numa formiguinha à face da Terra à espera que me pisem.
Afinal de contas não somos nada, nada. Não foram suficientes anos os que viveste, os que trabalhaste e principalmente os que amaste e cuidaste para seres inesquecível e intocável. Não foram suficientes os sacrifícios que fizeste, o tempo que cedeste, a vida que partilhaste para merecer lealdade. Pelo menos lealdade... Esperei que pelo menos houvesse para contigo lealdade. Mais uma vez, falhei.