Thursday, August 1, 2013

Não vou apanhar os cacos feitos pelos outros...


Foi o que lhe disse quando me despedi dela. "Não vou apanhar cacos a sua casa, avó. Respeitarei a sua vontade, mas não assistirei à forma como a tratarão! Amo-a até ao meu último dia."

Não tardou dois meses sequer até não resistir a vê-la, em cacos, naquele que será o seu leito final. Despersonalizada a sua casa... a "vossa" casa, tua também, avô. Retiraram-te de lá, ao teu estilo e à tua imponência. Foste removido e apagado, por receio de julgamento ou mesmo por vergonha. Agora reconheço um apartamento pequeno, sombrio e pobre que nunca antes tinha conhecido por estar forrado de ti, vô! Está sem alma, como ela deseja estar também. Não a perdeu ainda, há um brilho de reconhecimento presente mas fugaz, que me dá uma angústia maior do que daria a sua ausência. Domada, aquela grande alma de uma senhora tão pequenina, em poucas semanas minguou na antecâmara que lhe prepararam e onde espera o alívio na escuridão. Percebo-a, também prefiro o escuro ao reconhecimento dos rostos de quem a colocou naquela situação. 

Mesquinhez, que mesquinhez... que pobreza de espírito, que falta de visão! Que estupidez! Que fascínio pelo poder ter, pelo poder mandar, pelo poder "ganhar"! Que "raivinha dos dentes" da gente crescida! Que despeito! Que aflição!

Não vou apanhar os cacos feitos pelos outros, mas no fundo espero que cada um pague por cada caco que fez, cada pedaço de dignidade que lhe retirou e cada sorriso que não lhe provocou. Amo-a e amo o "menino". Amo-te de coração, meu irmão.

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