Monday, December 23, 2013

7 anos

Sete anos passados, ultrapassada que foi a angústia da tua perda, agudizou-se a angústia da tua ausência. Nesta fase da nossa vida, é angustiante não te ter aqui a fazer o teu papel de avó, de mãe e de mulher. Gostava que nos visses hoje, sentiria o teu sorriso quente a iluminar-nos os dias. Certamente estarias feliz connosco, com a pequena família que formámos, com o que se sente cá em casa, neste verdadeiro lar. Certamente serias feliz aqui e agora, daí a angústia da tua ausência, ao saber que não te ofereci o melhor da minha vida nem de mim, porque mudei tanto nestes 7 anos. Amar-te-ei até ao fim dos meus dias, mãe! Estás presente no meu coração e na minha casa. 

Friday, October 18, 2013

Não vieste outra vez

Não vieste almoçar. Ontem o meu coração dizia que virias. Quando dei por mim a almoçar e me senti culpada por não ter esperado por ti. Mas não vieste almoçar, nem lanchar como fazias com a minha outra bebé. Esta bebé não te conhece e não apareceste ao almoço e eu só senti culpa, por não ter esperado por ti, mãe. Nunca mais vieste almoçar, nunca mais... Mas ontem eu senti-te perto, aqui mesmo à porta e eu egoisticamente a comer sozinha, sem ter esperado por ti. Não sei porque não entraste, eu senti-te mesmo aqui à porta... mas não entraste.

Friday, September 20, 2013

Mãe/avó Nonô

Tivesse eu a sorte de ouvir esta menina chamar a avó Nonô. Tivesse ela a sorte de cheirar e sentir o calor do teu colo. Tivesse eu a sorte de poder ter-te nestas condições outra vez, tal como foste tudo quando nasceu a tua primeira neta. Tivesse eu a sorte de me sentir acolhida em ti quando mais frágil me sinto, quando pareço mais incapaz, quando a ouço chorar. Tivesse ela a sorte de ser rodeada pelo teu ninho, pela tua redoma, pelo teu amor. Tivesse eu a sorte de sentir o teu amor. Tivesse ela a mesma sorte. Tivesse eu a sorte de sentir-te recordada sem fim. Tivesse ela a sorte de te poder recordar. Tivesse eu a sorte de estares aqui, mãe. Sinto-me metade de mim sem ti.

Thursday, August 1, 2013

Não vou apanhar os cacos feitos pelos outros...


Foi o que lhe disse quando me despedi dela. "Não vou apanhar cacos a sua casa, avó. Respeitarei a sua vontade, mas não assistirei à forma como a tratarão! Amo-a até ao meu último dia."

Não tardou dois meses sequer até não resistir a vê-la, em cacos, naquele que será o seu leito final. Despersonalizada a sua casa... a "vossa" casa, tua também, avô. Retiraram-te de lá, ao teu estilo e à tua imponência. Foste removido e apagado, por receio de julgamento ou mesmo por vergonha. Agora reconheço um apartamento pequeno, sombrio e pobre que nunca antes tinha conhecido por estar forrado de ti, vô! Está sem alma, como ela deseja estar também. Não a perdeu ainda, há um brilho de reconhecimento presente mas fugaz, que me dá uma angústia maior do que daria a sua ausência. Domada, aquela grande alma de uma senhora tão pequenina, em poucas semanas minguou na antecâmara que lhe prepararam e onde espera o alívio na escuridão. Percebo-a, também prefiro o escuro ao reconhecimento dos rostos de quem a colocou naquela situação. 

Mesquinhez, que mesquinhez... que pobreza de espírito, que falta de visão! Que estupidez! Que fascínio pelo poder ter, pelo poder mandar, pelo poder "ganhar"! Que "raivinha dos dentes" da gente crescida! Que despeito! Que aflição!

Não vou apanhar os cacos feitos pelos outros, mas no fundo espero que cada um pague por cada caco que fez, cada pedaço de dignidade que lhe retirou e cada sorriso que não lhe provocou. Amo-a e amo o "menino". Amo-te de coração, meu irmão.

Thursday, May 23, 2013

castelos de areia, não!

 

Tiveste razão em partir cedo. Partiste para não ver o desmoronar de um castelo de areia. Partiste a tempo, foste embora sem perdão. Recuso-me a substituir-te, recuso-me a ser quem eras, não vou erguer outras paredes de areia para as deixar desmoronar noutras mãos. Fizeste o teu melhor por quem não merecia o teu pior. Foste tu, simplesmente tu:  havia coisas a fazer e fizeste-as com a ideia de que assim ficaríamos melhor.

Nem tudo deu certo, mãe. Ficámos pior em tudo, com a tua partida. Mas certa fico eu, de que ao partir evitaste a mais dolorosa parte da tua vida, a admissão da mentira que acautelaste nos bastidores, a queda do pano, a retaguarda do espectáculo podre em que viveste. Se antecipaste isto e partiste, fizeste bem. Não te queria por cá agora. Revelam-se a cada dia os horrores que escondeste de muitos, mas não de mim, a quem abriste os olhos tanto quanto pudeste. Vou-me safando, a família cada vez mais pequena mas cada vez mais grandiosa,… vamo-nos safando. Com os outros, rapidamente deixarei de me preocupar ou sequer de reparar nas suas pústulas nauseabundas expostas.

Monday, April 29, 2013

Saudades

A tua morte é sempre nova em mim.
Não amadurece. Não tem fim.
Se ergo os olhos dum livro, de repente
tu morreste.
Acordo, e tu morreste.
... Sempre, cada dia, cada instante,
a tua morte é nova em mim,
sempre impossível.

Adolfo Casais Monteiro

Tuesday, March 5, 2013

Mãe-mãe

És mãe sagrada, mãe amada, mãe querida. És mãe-mãe, muito mãe e tanto amiga. És mãe-avó, mãe-tia, mãe-mulher, mãe-irmã, mãe-filha. És tudo mãe. És mãe minha, tão minha que não sais de mim. És mãe avó, mais do que quando partiste. És MÃE! Serás novamente avó de quem um dia quero que me sinta como te sinto a ti, mãe-mãe.