Friday, March 30, 2007

Sinto-me ir


Já não sou quem fui, sou o que ficou de mim... a mim, sinto-me ir.
Sinto-me ir devagar, fingindo que não me vejo sair. Vou ficar a fingir.
Cá ficarei, sem parte de mim. Vou ficando, desejando partir.
Não sei o que me poderá mais trair. Nada tenho, já parti.
Saí por debaixo da porta, voei pela janela. Não me encontras, já não estou aqui.
Fui para longe, para de onde saí. Não voltarei, nada tenho aqui.
Aqui fica quem não sou, quem nunca quis ser. Ficam as cinzas, os restos de mim.
Pálida e cinzenta sombra sou, a chama perdi, quando te perdi a ti.

Friday, March 23, 2007

Noite


Está sempre noite desde que partiste.
O sol vai e vem sem deixar passar luz nem calor.
A lua tem sido companheira e as estrelas que andas a fazer para a menina, por mim já chegam, podes voltar. Fico satisfeita com as nuvens, cobrem o céu e não permitem sonhar mais além, sonhar com o invisível e com o inexistente, deixam tudo ser mais verdadeiro, cru e cruel. São elas que me lembram que nada ficou, que sou só eu e que ninguém realmente me vê porque entre cada um de nós há uma interposição de neblina que torna evidente a distância e a pouco importância que temos para os outros.

Está sempre noite desde que partiste.
Nem quero que o dia chegue porque vou ainda mais sentir a tua falta não tendo o teu sorriso e o teu abraço, o teu bom dia, o teu regaço, o teu dom de me fazeres feliz.

Está sempre noite desde que partiste e não haverá dia até voltares.

Monday, March 19, 2007

Grito


Quero gritar ao Mundo a minha dor. Quero fazê-lo tremer no meu tormento. Quero apagar o sol e fazer perdurar a escuridão. Quero queimar a minha roupa e ser EU tão só, nua e fria como quanto me sinto. A roupa não me serve de aconchego nem abrigo sem estares comigo, mãe. Quero gritar ao Mundo esta injustiça, quero dizer-lhe como o odeio, vazio e cruel que é. Quero gritar aos felizes que o pior está para vir, que tudo muda num segundo, que a perda é eterna e com ela vem o agoniante vazio.
A ti mãe, quero sussurar ao ouvido o que te amo e amarei, como me salvaste a vida, perdendo anos teus. Quero beijar-te o rosto e os cabelos, abraçar-te como nunca e pedir-te, suplicar-te que voltes para nós. Que voltes a iluminar-me, aquecer-me, aconchegar-me e acolher-me nos teus braços. Pequena que és, foste sempre enorme para mim.
Amo-te...

Thursday, March 15, 2007

Essência de mim


Sou filha de mãe para sempre perdida,
filha de pai que ama sentida,
mãe de uma filha sem pai nesta vida.

Ando por cá, de mim esquecida...